Distenção-abdominal

A importância da higiene na saúde gastrointestinal infantil

Quando falamos em saúde gastrointestinal infantil, é comum pensarmos logo em alimentação balanceada, uso correto de antibióticos ou tratamentos para infecções comuns. Mas existe um fator muitas vezes negligenciado — e que tem impacto direto sobre o bem-estar das crianças: o ambiente onde elas vivem.

A higiene pessoal e o acesso ao saneamento básico são pilares fundamentais para a prevenção de doenças que afetam o sistema digestivo dos pequenos. Afinal, de que adianta cuidar da dieta e da imunidade, se a criança está constantemente exposta a parasitas, bactérias e vírus vindos da água contaminada ou do contato com superfícies sujas?

O elo invisível entre ambiente e saúde intestinal

Muitas infecções gastrointestinais que acometem crianças — como diarreias, verminoses, gastroenterites e até infecções por H. pylori — têm origem em ambientes insalubres, onde a higiene é deficiente. A falta de acesso à água potável, esgoto tratado e práticas básicas de higiene, como lavar as mãos corretamente, é responsável por milhões de casos de doenças evitáveis todos os anos.

Crianças são especialmente vulneráveis: seus sistemas imunológicos ainda estão em desenvolvimento, elas costumam explorar o mundo com as mãos e têm mais contato com o chão, brinquedos e superfícies potencialmente contaminadas. Além disso, muitos dos parasitas e microrganismos presentes em ambientes sem saneamento adequado são resistentes e se proliferam com facilidade.

O impacto das infecções recorrentes

Infecções intestinais frequentes podem levar a consequências sérias:

  • Desidratação: uma das principais causas de internação por diarreia em crianças pequenas;
  • Desnutrição: infecções prejudicam a absorção de nutrientes e podem gerar deficiências crônicas;
  • Uso recorrente de antibióticos: o que afeta a microbiota intestinal e aumenta o risco de resistência bacteriana;
  • Atrasos no desenvolvimento: a longo prazo, infecções repetidas podem impactar o crescimento e o desempenho cognitivo.

E tudo isso, em muitos casos, poderia ser evitado com ações simples e acessíveis.

Higiene pessoal: pequenos hábitos que salvam vidas

Ensinar e incentivar práticas de higiene desde cedo é uma das formas mais eficazes de proteger a saúde intestinal das crianças. Alguns hábitos fundamentais incluem:

👐 Lavar as mãos com água e sabão antes das refeições, depois de usar o banheiro e após brincar ao ar livre;

🍎 Higienizar bem os alimentos, principalmente frutas e verduras consumidas cruas;

🧼 Manter brinquedos e objetos pessoais limpos, especialmente aqueles que vão à boca;

🚽 Utilizar banheiros limpos e com acesso à descarga, papel e sabão;

👶 Cuidar da higiene das mãos dos cuidadores, principalmente antes de alimentar ou trocar a criança.

Essas ações simples quebram o ciclo de contaminação e reduzem drasticamente a exposição a agentes patogênicos.

O papel do saneamento básico

Saneamento básico vai além de canalização de esgoto. Ele inclui:

  • Acesso à água potável e tratada;
  • Rede de esgoto que não contamine rios, solos ou lençóis freáticos;
  • Coleta regular de lixo;
  • Educação ambiental e sanitária nas comunidades.

Em locais onde essas condições são garantidas, a prevalência de infecções intestinais infantis é consideravelmente menor. Ou seja, saneamento é saúde pública, é prevenção — e é direito de toda criança.

E na prática clínica?

Na minha atuação pediátrica, é muito comum observar que crianças com histórico de infecções gastrointestinais recorrentes vivem em condições de higiene precária ou em regiões sem saneamento básico adequado.

Mais do que prescrever medicações, acredito que nosso papel também é educar e orientar as famílias. A prevenção é sempre mais eficaz (e menos dolorosa) do que o tratamento.

Por isso, conversas sobre cuidados com o ambiente, hábitos de higiene e atenção à qualidade da água e dos alimentos fazem parte da minha rotina de consulta.

Conclusão: um cuidado que começa fora do consultório

Cuidar da saúde gastrointestinal infantil é um trabalho que começa fora do prato e vai além do uso de medicamentos. Ele passa por ações simples — como lavar as mãos — e também por políticas públicas de infraestrutura e saúde.

É responsabilidade de todos: profissionais, cuidadores, gestores públicos e sociedade.

Leia todos os artigos: https://dralizcustodio.com.br/blog/

O que deseja encontrar?

Compartilhe